Com as intensas manifestações na França contra a possível reforma da previdência, que modificaria o início da aposentadoria dos franceses de 62 para 64 anos, resolvi retomar o assunto sobre a importância de ter um plano de aposentadoria.
Embora seja vasto o volume de informações sobre como planejar a aposentadoria, grande parte da população brasileira não contribui para qualquer sistema de proteção previdenciário, seja público ou privado.
É compreensível que a quantidade de informação não seja proporcional à adesão. Isto porque a maioria do conteúdo disponível sobre previdência foi elaborado por educadores e consultores financeiros – pessoas que, normalmente, emitem conteúdos que somente se parecem bons, mas que, na verdade, são uniformes, enfadonhos, distantes da prática e da realidade de cada cidadão.
O alcance da proteção previdenciária no Brasil
Conforme o último levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, cerca de 26 milhões de pessoas (ou 31% do público ocupado), estavam desprotegidas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O valor médio dos benefícios emitidos pela previdência social é de apenas R$ 1.477,74 e o teto do INSS para 2023 é de R$ 7.507,49.
Se aposentar com o teto é uma realidade praticamente impossível. Dentro dos mais de 30 milhões de benefícios pagos pelo INSS, menos de mil eram equivalentes ao teto previdenciário, também segundo o último levantamento do IBGE.
Para este valor médio de benefícios é de se esperar uma mobilização maior na busca de produtos de previdência privada, daqueles com melhores condições financeiras ou um padrão de vida superior, a fim de que possam complementar a renda na aposentadoria e manter o padrão de vida alcançado no período laboral.
Conforme pesquisa realizada pela Folha de São Paulo, apenas 27% da população brasileira com renda superior a 10 salários-mínimos são investidores de produtos de previdência privada.
Fonte: Folha de São Paulo. Pesquisa com 2.781 entrevistados em 172 cidades.
Vale ressaltar que apenas 16% da população brasileira possui uma renda mensal superior a 5 salários-mínimos, tornando o volume absoluto de investidores em previdência privada irrisório, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do IBGE.
Sobre a urgência de se pensar na velhice, antes de chegar nela
Para falar sobre a urgência em desenvolver uma estratégia de renda para a aposentadoria, sem cair na mesmice improdutiva de citar o aumento da longevidade, vamos aos fatos.
1°
Viver mais não significa capacidade de trabalhar por mais tempo.
2°
Viver por mais tempo não implica no aumento de vagas de trabalho.
3°
O aumento da longevidade não atinge toda sociedade da mesma forma.
Não há dúvida que o aumento da expectativa de vida foi extraordinário.
Entre 1960 e 2020, a população mundial com mais de 50 anos cresceu 4,44 vezes.
Fonte: Our World in Data
autora: Claudia Kodja – Palestra Família Previdência
No entanto, viver por mais tempo não implica no aumento da oferta de emprego ou habilidade e capacidade para atuar nas novas vagas de trabalho.
O percentual de pessoas com mais de 55 anos que manifestam limitações físicas e mentais para o trabalho se mantém estável no mundo desde a década de 1980, em torno de 44%, segundo o Boletim Estatístico da Previdência.
A partir dos 50 anos e, definitivamente, dos 60, trabalhadores economicamente ativos são agregados, instantaneamente, sem critério ou avaliação, para uma bolha invisível e passam a sofrer com o ageísmo do mercado.
O ageísmo ou etarismo do mercado é determinado pela crença de que os trabalhadores mais velhos devem ser preteridos, uma vez que possuem menos capacidade, agilidade, dão mais valor aos métodos passados e podem ser mais caros.
Neste contexto, aumentar a idade da aposentadoria e cortar benefícios não constitui um plano de reforma da previdência social, a exemplo do que foi feito no Brasil e o que se cogita fazer na França. Pode expressar força política e conter as preocupações do mercado no curto prazo, mas de forma ineficaz, mantendo a estrutura deficitária e reduzindo a base de consumo da economia interna.
Se toda falta de estrutura social e política para recepcionar o violento aumento da longevidade não for suficiente para alertá-lo sobre o risco de empobrecimento na velhice e a necessidade de estabelecer uma estratégia de renda vitalícia para o período, podemos adicionar a vulnerabilidade crescente dos vínculos trabalhistas.
A dinâmica de mercado anterior, onde a maioria iniciava sua vida laboral após terminarem seus estudos e encontravam empregos estáveis por tempo integral, em que muitas vezes permaneciam até se aposentarem por volta dos 60 anos, parece ter os dias contados.
Carreiras estáveis e por tempo integral não correspondem aos padrões de oferta na atualidade ou às preferências dos jovens trabalhadores. O que se observa é uma realidade mais complexa, com trocas frequentes de emprego, diferentes tipos de vínculos trabalhistas, períodos flexíveis de atividade e avanços tecnológicos, que estão revolucionando o mercado.
Sob todos os aspectos descritos, o empobrecimento ou de queda do padrão de vida na velhice é um risco que ameaça a todos os trabalhadores e a diversas classes sociais. Fechar os olhos para o problema ou adiar a estruturação de uma estratégia de renda para sua velhice poderá levá-lo ao isolamento, insegurança financeira e ao empobrecimento.
Acompanhe no meu próximo artigo na InvestNew$, as estratégias de renda possíveis para uma aposentadoria financeiramente estável e um envelhecimento seguro; até lá!
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